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Escritor denuncia uso de religião para disseminar discurso de ódio em livro de poemas

São Paulo, por Kleber Patricio

Capa do livro. Fotos: divulgação.

Em 10 de julho, a Justiça determinou a retirada das redes sociais de um vídeo com conteúdo discriminatório contra a população LGBTQIA+, que incitava a violência física contra esse grupo, proferido por um pastor nacionalmente conhecido durante um culto transmitido pela internet. A Justiça entendeu, em sua decisão, que o que se via na pregação divulgada nas redes sociais ultrapassava em muito a liberdade religiosa e de expressão. Em poemas de seu livro recém-lançado “O poeta toma a pólis” (Editora Patuá), o poeta e escritor Teofilo Tostes Daniel aborda o uso da religião como escudo para quem dissemina discursos de ódio.

No poema que encerra a primeira parte do livro, intitulado “Se eu acreditasse num deus”, o autor fala da incapacidade de crer num Deus “que é menos capaz/de acolher o múltiplo e o diverso/do que a própria humanidade”, afirmando por fim que se fosse tocado pela graça de crer, sua divindade seria “mais amor/do que o amor condicional/dos deuses/em que jamais fui capaz de crer”.

Mais adiante no livro, o tema dos usos da crença é abordado em poemas como “Inverdades não digo”, no qual Teofilo versifica “O contrário do sagrado/não é o profano,/mas a ignomínia/ cometida em nome da faca amolada/que é a fé/cega”. E volta com força no último poema do livro. Espelhado na estrutura da oração do “Pai nosso”, o poeta faz uma oração à incerteza, pedindo aos deuses e às deusas de todas as crenças que “santifiquem minhas dúvidas,/e multipliquem em meus olhos/perguntas e questionamentos”.

Em contraponto ao discurso dogmático que cria condenações, “O poeta toma a pólis” exalta a necessidade da exaltação do amor em todas as formas, aliando-se à tão atacada comunidade LGBTQIA+. Esse tema está presente já no poema de abertura do livro, intitulado “É urgente espalhar amor”, que chama a atenção para o fato de que “são tempos miseráveis/aqueles em que o amor/é motivo de escândalo e perplexidade,/e o ódio,/aplaudido de pé,/se alastra como uma praga/na boca e nas mãos de tantos/e na morte e no massacre/de quem ousa ser,/mesmo que involuntariamente,/o Outro.”

Num momento histórico repleto de desafios e urgências, após uma pandemia planetária de consequências catastróficas – em especial no nosso país – e com a humanidade tentando adiar o fim do mundo, por que a poesia ainda importa?

É a partir dessa pergunta central que nasce “O poeta toma a pólis”, obra em que a poesia ocupa um lugar de resistência e testemunho, além de servir de matéria essencial para sonhar um mundo onde a diversidade humana é celebrada.

Sobre o autor | Teofilo Tostes Daniel, nascido em 1979, é autor de “O poeta toma a pólis” (Patuá, 2023), “Trítonos – intervalos do delírio” (Patuá, 2015) e “Poemas para serem encenados” (Casa do Novo Autor, 2008). Tem ainda contos, poemas e artigos publicados em coletâneas, revistas literárias e culturais. É formado em Produção Editorial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e vive em São Paulo desde 2006, onde trabalha como analista de comunicação social do Ministério Público Federal. Faz ensaios abertos com palavras em http://teofilotostes.wordpress.com/.

Serviço:

Livro O poeta toma a pólis

Autor: Teofilo Tostes (@teofilotostes)

Editora: Patuá

Páginas: 136

Preço: R$45,00

Adquira o livro em: https://www.editorapatua.com.br/o-poeta-toma-a-polis-poemas-de-teofilo-tostes-daniel/p.

(Fonte: Aspas & Vírgulas)