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Conservatório de Tatuí recebe obra de Denilson Baniwa

Tatuí, por Kleber Patricio

Foto: Bruno Ducatti.

O Conservatório de Tatuí contará com uma obra do artista visual Denilson Baniwa, responsável por pintar quatro faces de empenas do prédio da Unidade 2, que fica na Rua São Bento. Baniwa cria seus trabalhos a partir de referências de seu povo assim como de outras cosmologias indígenas da América do Sul. Mescla referências tradicionais e contemporâneas destas culturas, além de suas lutas. Para o Conservatório de Tatuí, Denilson criou a pintura “Constelações”, uma resposta à obra da naturalista e ilustradora científica Maria Sibylla Merian, de Frankfurt.

Denilson diz que “as obras de Merian retratam a metamorfose dos animais seguindo vários estágios da vida de insetos, aracnídeos e outros em uma relação direta com plantas, rochas e solo. Seu trabalho é muito importante para pensarmos sobre as relações de troca e mudança que tornam possível a continuidade da vida. Ao contrário da maioria dos artistas de seu tempo, ela estava preocupada em documentar a vida em transformação, nos estágios de mudança dos seres. Em contraste com Maria Sibylla Merian, o meu trabalho pretende dar um vislumbre de uma relação diferente com a vida, compreendendo o visível e o invisível. Na cosmologia Baniwa, os seres que se transformam e mudam de forma são importantes para a continuidade da vida na Terra”. Em 2021 Denilson criou a obra “Autorretrato” para a empena de incríveis 30 metros de altura no Condomínio Edifício Rosemarie, localizado no coração do centro de São Paulo, no Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão. A pintura fala sobre um jovem Baniwa que chega na cidade e descobre novos mundos para explorar. “Trazer a cosmologia Baniwa para o mural é para que esses seres possam aparecer e cumprir seu propósito de polinizar memórias e transformar florestas; significa compartilhar um pouco de mundos indígenas e sua cosmologia”, complementa.

A obra faz parte da ação do Conservatório de Tatuí de convidar artistas visuais para criarem e executarem murais artísticos nas empenas da Sede e Unidade 2. De acordo com Antonio Salvador, gerente artístico e pedagógico de artes cênicas, ações como esta contribuem para a democratização da arte, além de destacar a arte brasileira. “A presença de artistas como o Denilson Baniwa é um grande passo na direção de alinhar a escola com criações e discussões contemporâneas e urgentes na arte e na vida brasileira e mundial. Neste caso, não é só a presença, a passagem dele; é o Conservatório criando condições para que um artista desta importância possa criar uma obra na Escola, transformando a arquitetura da Unidade 2 do Conservatório e de seu entorno. É um chamado à responsabilidade de repensarmos o quê, de fato, no Brasil de hoje, um Conservatório deve preservar. Já é visível que a energia do lugar é outra; desde o início da pintura, as pessoas que passam não param de fotografar, perguntar e se emocionarem. Tatuí ganhou uma grande obra de arte a céu aberto, um pouco do céu Baniwa hoje também está em Tatuí”, reforça.

Denilson é dos mais importantes artistas visuais brasileiros da atualidade, com reconhecimento internacional que, a partir do Movimento Indígena Amazônico, transita pelo universo não indígena e seus processos artísticos. Em sua trajetória, consolida-se como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional. No Brasil já expôs no MASP – Museu de Arte de São Paulo, MAR – Museu de Arte do Rio, Centro Cultural Banco do Brasil e Pinacoteca do Estado de São Paulo e participou de algumas Bienais, com destaque para a 34ª com o Pavilhão Indígena, entre outros espaços. Em 2022 foi curador da exposição “Nakaoda”, no MAM Rio. Nos últimos anos, Denilson tem ocupado espaços que vão de exposições a residências artísticas em vários lugares do mundo como Canadá, Estados Unidos, França e Austrália. Entre as premiações, venceu duas vezes o Prêmio Pipa (2019 e 2021), a maior condecoração da arte contemporânea do Brasil e, em 2014, como ilustrador, recebeu o Prêmio Festival Festas de Lisboa.

Além de Baniwa, o Teatro Procópio Ferreira receberá a pintura de Diego Dedablio, artista plástico de Tatuí e região. As pinturas já se iniciaram e ficarão prontas em breve.

(Fonte: Máquina Cohn & Wolfe)