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Cinemateca Brasileira apresenta mostra “Espetáculo Polêmica Cultura”

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Caio Brito | João Pedro Albuquerque.

A Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC) foi fundada em 1962 com o objetivo de articular apoio dos poderes públicos e da iniciativa privada para obter os recursos materiais necessários ao desenvolvimento dos trabalhos da Cinemateca Brasileira. No núcleo desta empreitada estavam Dante Ancona Lopez, publicitário e distribuidor de filmes, Florentino Llorente e Paulo Sá Pinto, exibidores, e Rudá de Andrade, conservador-adjunto da Cinemateca.

A ideia havia sido lançada em 1957 por Paulo Emílio após o primeiro incêndio na Cinemateca. Ao constatar a fragilidade da instituição e analisar as relações dela com as esferas políticas e sociais e o impacto da tragédia na opinião pública, concluiu: “Se todos se agruparem numa Sociedade de Amigos da Cinemateca Brasileira será evitado um colapso cuja consequência impediria por tempo indeterminado que o nosso país continue participando do mais importante fenômeno de aprofundamento da cultura democratizada no mundo moderno: a aproximação cultural do cinema”. (Paulo Emílio Sales Gomes – “A Cinemateca e os poderes”, 1957).

Frame de “A Paixão de Joana D’Arc”.
Foto: Sobol.

A SAC foi constituída oficialmente em 2 de julho de 1962. Seu primeiro presidente foi Dante Ancona Lopez, que também exerceu o cargo de diretor, juntamente com Florentino Llorente, João Guilherme de Oliveira Costa e Rui Nogueira Martins. Rudá de Andrade era responsável pela orientação técnica e Jean-Claude Bernardet coordenava as publicações, enquanto Alexandre Wollner orientava a identidade gráfica. A proposta de Dante Ancona Lopez era oferecer filmes de arte “que geram polêmica, que possuem um valor estético e apresentam um testemunho político-social”. Daí o slogan ‘Espetáculo Polêmica Cultura’, que reforçava o perfil da sala como um espaço de estímulo mais amplo à cultura cinematográfica. A partir da inauguração do Cine Coral, Dante criou o conceito de cinema de arte em São Paulo.

Para celebrar os 60 anos da fundação da SAC, a Cinemateca Brasileira organizou uma mostra dividida em três blocos, reproduzindo a prática de programação da época. Ao longo do evento, os familiares de Dante Ancona Lopez farão a doação do acervo do empresário à instituição.

Programação 1: Grandes Estreias Nacionais | Muitos dos grandes nomes do cinema brasileiro exibiram seus filmes pela primeira vez em uma das salas administradas pela SAC. A Mostra SAC vai apresentar clássicos do nosso cinema, entre os quais, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, “Garrincha, Alegria do Povo”, de Joaquim Pedro de Andrade, e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de Roberto Santos.

Programação 2: Grandes Estreias Internacionais | Dante Ancona Lopez trouxe filmes raríssimos de diversos países para as salas da SAC, ajudando a formar o público cinéfilo de São Paulo. A mostra contará com sessões dos espetaculares “Faraó”, de Jerzy Kawalerowicz, “O Momento da Verdade”, de Francesco Rosi, dos polêmicos “A Passageira”, de Andrzej Munk e Witold Lesiewicz, “Os Subversivos”, dos irmãos Taviani e do raro “O Crime da Aldeia Velha”, de Manuel Guimarães, além de “Um Cão Andaluz” e “O Anjo Exterminador”, de Luis Buñuel, “Mickey One”, de Arthur Penn, e “Cinzas e Diamantes”, de Andrzej Wajda, entre outros.

Programação 3: Filmes exibidos nas inaugurações das salas | Os cinemas e auditórios programados pela SAC desde 1962 sempre foram reconhecidos como singulares centros de formação cultural. Gerações de artistas, intelectuais e cinéfilos frequentaram esses espaços e puderam conhecer e ‘tomar gosto” pelos filmes de arte e, ao mesmo tempo, reconhecer a importância da Cinemateca Brasileira e de seu acervo-repertório na formação de uma sólida cultura cinematográfica. A Mostra SAC traz todos os filmes que foram exibidos na abertura de cada uma das salas programadas pela organização.

Frame de “Cão Andaluz”. (Divulgação)

Cine Coral – Projetado pelo arquiteto Túlio Ficarelli, o cinema foi inaugurado em 1958, na Rua Sete de Abril 381, com a exibição do filme “Esses Maridos”, de Luigi Comencini.

Cine Picolino – Inaugurado em 1955, a sala localizada na Rua Augusta 1513 (ao lado do prédio ocupado hoje pelo Espaço Itaú de Cinema), era propriedade da empresa Rilo de Cinemas e Hoteis S.A. e também integrava o circuito da Cia. Serrador. A partir de março de 1965, a Serrador e a SAC passaram a programar as atividades do Picolino. Para a inauguração dessa nova fase, foi lançado o filme italiano “Os Amantes de Florença”, de Carlo Lizzani, com Marcelo Mastroianni no elenco. O evento mereceu um elogioso artigo de Glauber Rocha no Diário Carioca.

Cine Scala – O Scala, localizado na Rua Aurora 720, Santa Ifigênia, foi inaugurado em 1962 com uma sessão de “Ópera dos Pobres”, de George W. Pabst. No ano seguinte, um incêndio destruiu suas instalações. A partir de 1965, já recuperado, passou a integrar o circuito de cinemas de arte da Cia. Serrador, acolhendo as programações da SAC, em paralelo às atividades do Cine Picolino.

Frame de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. (Divulgação)

Auditório do Museu de Arte de São Paulo – No final de 1962, a SAC passou a promover atividades no auditório do MASP. No início de 1963, foram feitas reformas nas instalações e adequação das cabines de projeção. Em março, na solenidade que marcou o início das atividades da SAC no Museu, foi apresentado o filme “Harakiri”, de Masaki Kobayashi, que um mês depois seria exibido em Cannes como representante oficial do Japão.

Belas Artes – Em 14 de julho de 1967, foi inaugurado o Cine Belas Artes, com a exibição da comédia “Os russos estão chegando! Os russos estão chegando!”, dirigido por Norman Jewison, indicado a quatro categorias do Oscar e ganhador do Globo de Ouro de melhor comédia. A pretensão inicial era exibir um filme de autor, mas a Serrador preferiu obra mais comercial para a inauguração. Além de programações comerciais e das sessões especiais transferidas do Picolino, o Belas Artes acolheu outras manifestações artísticas (apresentações musicais, peças teatrais e exposições), buscando se tornar um “verdadeiro centro de cultura”. O lema ‘Espetáculo Polêmica Cultura’ foi incorporado à marca do novo cinema.

Sala Cinemateca – Por oito anos, a Sala Cinemateca ocupou o espaço do antigo Cine Fiametta, na Rua Fradique Coutinho (atual Cinesala). Em sua inauguração, foi exibida a versão restaurada de “A paixão de Joana D’Arc”, de Carl Theodor Dreyer, mesma obra projetada à época da inauguração da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo (embrião da Cinemateca Brasileira). O filme integrava o ciclo inaugural da sala, intitulado ‘Cinemateca 40 anos’, composto por obras expressivas do acervo da instituição.

Mostra “Espetáculo Polêmica Cultura”

Cinemateca Brasileira | Sala Grande Otelo (210 lugares + 4 assentos para cadeirantes)

Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana – São Paulo (SP)

Ingressos gratuitos e distribuídos uma hora antes de cada sessão.

Cinemateca Brasileira

A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962 e que recentemente foi qualificada como Organização Social.

O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.

Site

Instagram: @cinemateca.brasileira

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(Fonte: Trombone Comunica)