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Artista francês Saype revela pinturas do projeto Beyond Walls pela 1ª vez no Brasil

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Pintura nas areias da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Crédito das fotos: Saype.

Especialista em pinturas gigantes ao ar livre, o artista plástico francês Saype apresentou anteontem (20/7) suas obras do projeto Beyond Walls produzidas no Rio de Janeiro, que conectam o Brasil a uma grande corrente humana mundial em favor da vida. Saype afirmou que as pinturas feitas na cidade são “importantes” para a “conexão de histórias” que serviram de inspiração para obras do artista ao redor do mundo. “O nosso projeto é apoiar as pessoas para se ter um futuro melhor”, declarou o artista em coletiva de imprensa, realizada no Estação NET-Rio, em Botafogo, zona sul.

No Rio, Saype fez uma pintura com a imagem de braços e mãos entrelaçados nas areias da Praia de Copacabana, altura do Posto 2, na zona sul. Com cerca de 1.500 m², a obra de Copacabana tem conexão com outra pintura produzida em uma das praias da República de Benim, pequeno país localizado na África ocidental e que foi a etapa 10 do projeto.

Segundo Saype, de Benim partiram milhões de pessoas que foram levadas como escravas em porões de navios, sendo que muitas delas desembarcaram no Rio de Janeiro. A outra obra, de 825 m², foi feita em um campo de futebol no Instituto Heitor Carrilho, que integra a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, ao lado do Morro do Zinco, no Estácio, zona central do Rio, onde o artista também jogou bola com moradores. A tinta que o artista utiliza foi desenvolvida por ele e é 100% biodegradável com pigmentos naturais feitos de carvão e giz. O subprefeito da Zona Sul do Rio, Eduardo Valle, também participou da coletiva de imprensa representando o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

Pintura em um campo de futebol, no Instituto Heitor Carrilho, próximo ao Morro do Zinco, Rio de Janeiro.

Saype seguiu para Brumadinho (MG), onde fará uma pintura no campo de futebol do Córrego do Feijão, que foi usado pelo Corpo de Bombeiros para trazer os corpos de vítimas do rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro, de propriedade da Vale. Na tragédia, que ocorreu em 25 de janeiro de 2019, morreram 272 pessoas. “Resolvemos fazer uma nova história no projeto com a ida a Brumadinho. Vimos vários documentários e documentos sobre a mineração e o que aconteceu nesta cidade. Juntos, a humanidade consegue trabalhar para termos um mundo mais sustentável”, concluiu Saype.

Artista autodidata, conhecido como pioneiro de um movimento que une street art e land art, Saype foi considerado pela Forbes europeia como um dos jovens mais influentes na área cultural no mundo em 2019. Saype tem mais de 50 pinturas, incluindo na sede da ONU, em Nova Iorque, e no Champ de Mars, em Paris, além de participação na Bienal de Veneza. Também foi o único artista franco-suíço a participar das comemorações da Queda do Muro de Berlim, em 2019. O artista está pela primeira vez no Brasil com seu projeto Beyond Walls, que, em cinco anos, percorrerá apenas 30 cidades nos cinco continentes.

A arte de Saype a serviço da preservação da vida  

Ontem, ele uniu-se a vozes de familiares de vítimas e atingidos pelo rompimento da barragem de Brumadinho. Saype esteve com Maria Regina da Silva e Jacira Francisca, da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão (AVABRUM), e fez ecoar a ideia de que a arte deve estreitar os laços entre as pessoas.

Na coletiva de imprensa, ao lado de Maria Regina e Jacira, ele explicou o projeto e falou sobre a importância de apoiar causas, como a que tem sido liderada por familiares de vítimas e atingidos pela ruptura da barragem de rejeitos. A AVABRUM é idealizadora do Projeto Legado de Brumadinho que atua para que tragédias como a que ocorreu na cidade mineira nunca mais aconteçam.

Para Maria Regina, a arte de Saype tem a “nossa linguagem”, pois desde 2019, ano do rompimento do barragem, o sentimento é de que “ninguém pode soltar a mão de ninguém”. “Nós estamos aqui hoje para levar o nosso trabalho da AVABRUM. Nós ficamos muito satisfeitos que o Saype quis ir a Brumadinho para levar a sua arte para a nossa cidade que, no momento, está sofrida e precisando muito desse apoio”, afirmou Maria Regina, mãe de Priscila Elen Silva, que tinha 29 anos quando morreu soterrada pela lama de rejeitos no dia tragédia. Priscila era técnica em manutenção da Mina Córrego do Feijão. Jacira perdeu o filho Thiago, de 32 anos, que era mecânico da Vale.

No Rio, Maria Regina estava acompanhada da filha Perla Caroline Silva Pessoa, que é aluna da oficina de comunicação comunitária que está sendo promovida pelo Projeto Legado de Brumadinho. Perla participou da coletiva de imprensa e destacou a importância da obra do artista para os familiares de vítimas da tragédia.

Em Brumadinho, Saype também fará uma oficina com jovens, participará da Roda de Conversa “Memória não morrerá: arte e narrativas – o legado de Brumadinho” e no domingo, 24 de julho, às 16h30, no campo de futebol do Córrego do Feijão, em frente à Igreja Nossa Senhora das Dores, moradores e familiares de vítimas estarão de mãos dadas ao redor da pintura do artista.

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(Fonte: LS Comunicação)