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Após temporada de sucesso, O Bonde volta com ‘Bom Dia, Eternidade’ no TUSP Butantã

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: Noelia Najera.

Sucesso de público e de crítica em janeiro e fevereiro de 2024, o espetáculo ‘Bom dia, Eternidade’, d’O Bonde, volta em cartaz em São Paulo. Após temporada de estreia no Sesc Consolação, a peça faz apresentações gratuitas no TUSP Butantã (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, São Paulo, SP) entre os dias 12 de abril e 5 de maio, de quinta a sábado, às 19h, e, aos domingos, às 18h. Em seguida, entre 23 de maio e 2 de junho, a peça integra uma mostra de repertório que vai apresentar também os espetáculos ‘Desfazenda – Me enterrem fora daqui’ (2020) e o infantil ‘Quando eu morrer vou contar tudo a Deus’ (2019). As três obras formam a Trilogia da Morte.

Com a proposta de aquilombar-se, O Bonde reúne artistas periféricos que têm investigado as experiências de quase morte do corpo negro, com foco nas heranças do período escravocrata. Cada trabalho aborda uma fase da vida: infância, vida adulta e velhice.

A encenação

Em ‘Bom dia, Eternidade’, com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, quatro irmãos idosos que sofreram um despejo na infância recebem a restituição do terreno após quase 60 anos. Resta a eles se encontrar para decidir o que fazer. “Estamos construindo uma grande utopia em que os negros envelhecem de forma saudável e digna”, comenta o ator Filipe Celestino. Histórias reais e ficcionais se misturam e o tempo se embaralha em meio às lembranças. Toda a ação acontece no quintal da antiga moradia da família. “O cenário evoca essa atmosfera carinhosa, remetendo a uma casa de vó”, afirma Lubi, que também assina a cenografia e o figurino.

Fotos: Noelia Nájera.

Canções de Fernando Alabê, Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Roberto Mendes Barbosa, Luiz Alfredo Xavier, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf norteiam a narrativa. “Nossa banda é formada por músicos com mais de 60 anos e com uma trajetória incrível na área. Quisemos também que eles pudessem compartilhar as suas vivências, sem ninguém falando por eles”, conta Celestino.

Partindo desse princípio, o coletivo fincou os pés no presente e revisitou as histórias das famílias e das migrações, além dos contos, dos causos, das teses, das lutas e tudo o que constitui a sociabilidade de um corpo negro e velho. Os músicos se transformam em personagens e os atores Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves são os duplos deles, em um jogo cênico carregado de simbolismo. A direção musical é assinada por Fernando Alabê.

A dramaturgia

Segundo Jhonny Salaberg, este foi o primeiro trabalho com dramaturgia colaborativa d’O Bonde. O texto é fragmentado e cabe ao público juntar as peças. “Além dos relatos pessoais, nos debruçamos sobre notícias de jornal, referências audiovisuais e dinâmicas processuais para montar esse quebra-cabeças e ficcionalizamos em cima de todo esse material. Até porque nossa intenção é coletivizar os sujeitos do espetáculo; não estamos falando somente dessas personagens ou das oito pessoas em cena, estamos ressoando e representando muitas outras, riscando uma denúncia ampla: o não envelhecimento digno da população negra no Brasil”, comenta o dramaturgo.

O projeto foi realizado por meio da 38ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo — Secretaria Municipal de Cultura.

O Bonde

Desde 2017, O Bonde é o que nós somos. Nominalmente reverenciados a ajuntamentos negros e periféricos com o objetivo de aquilombar-se, somos também as nossas próprias singularidades em movimento conjunto, podendo nos constituir como um núcleo, um grupo, um coletivo ou um Bonde. Somos artistas negros e periféricos, formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André. Temos como pesquisa de linguagem a palavra e a narratividade como ferramenta de acesso, denúncia e ampliação de discussões afrodiaspóricas e seus desdobramentos. A abordagem épica da palavra como distanciamento dramático e aproximação narrativa é eixo fundante dos nossos pensamentos, desejos e mergulhos na étnica-criação-racial em São Paulo.

Os músicos, por Fernando Alabê

Cacau Batera é um grande instrumentista e intérprete dos mais exímios. Desfilou sua arte do ritmo apoiando artistas como Jerry Adriani, Tim Maia, Johnny Alf e Jamelão. Seu dom expande a arte do cantar ao modo dos “crooners” de antigamente e sua voz tem a excelência e a elegância dos grandes cantores da música popular brasileira.

Luiz Alfredo Xavier é parceiro de Zé Ketti e Jamelão, assim como de tantos outros aos quais emprestou seu conhecimento teórico musical, escrevendo as partituras das letras que lhe chegavam, e assim ajustando a harmonização delas. Revisor da Editora Ricordi, responsável pelo aprendizado musical de muitas gerações ao longo de mais de sessenta anos de música como cantor, compositor, violonista e contrabaixista, sendo, deste modo, integrante da primeira banda que acompanhava os Originais do Samba, quando o grupo ainda se chamava Os sete Crioulos da Batucada.

Maria Inês é uma cantora por resistência, pois foi impedida pela família de exercer seu sonho de cantar, como fazia em programas de calouros aos 15 anos.  Abandonando a carreira artística e se dedicando à arte e ser cabeleireira por cinquenta anos, ao se aposentar, ingressou no Coral da USP, onde ficou por dez anos, todavia se ausentando deste por mais dez anos, retornando aos palcos agora para a peça ‘Bom dia, Eternidade’.

Roberto Mendes Barbosa é maestro, regente de coral, cantor e compositor. Formado pelo Mozarteum, se dedica a corais e liras pela cidade de São Paulo, bem como atua como músico de cena para teatro, deste modo firmando sua participação no elenco musical de “Bom dia, Eternidade”.

Sinopse | Quatro irmãos idosos que sofreram um despejo quando crianças recebem a restituição do terreno após quase 60 anos e se encontram para decidir o que fazer. O tempo se embaralha em um jogo de cortinas e um mosaico de histórias reais e ficcionais é costurado no quintal da antiga casa acompanhado de um bom café e de um velho samba. Em cena, uma banda de quatro músicos, cada qual com mais de sessenta anos, em um jogo friccional com as narrativas dos atores/atriz d’O Bonde. Um espetáculo que descortina a realidade do passado olhando para o presente.

FICHA TÉCNICA

Idealização: O Bonde

Elenco: Ailton Barros (Carlos), Filipe Celestino (Everaldo), Jhonny Salaberg (Renato) e Marina Esteves (Mercedes)

Músicos em cena: Cacau Batera (bateria e voz), Luiz Alfredo Xavier (violão, contrabaixo e voz), Maria Inês (voz) e Roberto Mendes Barbosa (piano e voz)

Dramaturgia: Jhonny Salaberg

Direção: Luiz Fernando Marques Lubi

Diretora assistente: Gabi Costa

Direção Musical: Fernando Alabê

Videografia e operação: Gabriela Miranda

Desenho de luz: Matheus Brant

Cenografia e Figurino: Luiz Fernando Marques Lubi

Acompanhamento em dramaturgia: Aiê Antônio

Música original: “Preta nina” – Fernando Alabê, Luiz Alfredo Xavier e Roberto Mendes Barbosa

Técnico de som: Hugo Bispo

Técnica de Videografia: Clara Caramez

Captação de vídeo: Fernando Solidade

Costura cenário: Edivaldo Zanotti

Cenotecnia e Contrarregragem: Helen Lucinda

Fotos: Júlio Cesar Almeida

Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques

Social Mídia (criação de conteúdo): Erica Ribeiro

Produção: Jack Santos – Corpo Rastreado

Agradecimentos: Casa DuNavô, Coletivo Tem Sentimento, Família Barros, Família Celestino, Família Esteves, Família Martins, Família Salaberg, Guilherme Diniz, Grupo XIX de Teatro, Ilu Inã, Mercedes Gonzales Martins (in memoriam), Oficina Cultural Oswald de Andrade, Otávia Cecília (in memoriam), Teatro de Contêiner, Rogério de Moura e Willem Dias.

Serviço:

Bom dia, Eternidade

Até 5 de maio de 2024 – de quinta a sábado, às 19h, e, aos domingos, às 18h

Local: TUSP Butantã – Rua do Anfiteatro, 109 – acesso pela lateral direita do prédio, ao lado do bloco C – Butantã

Ingresso: Gratuito – retirada na bilheteria 1h antes do início da sessão

Duração: 120 min

Classificação etária indicativa: 14 anos.

(Fonte: Canal Aberto Assessoria de Imprensa)