A ração de animais é um ambiente favorável para a transmissão da bactéria salmonella em granjas suínas. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) encontraram cepas da bactéria em fábricas de ração para suínos no Sul do Brasil capazes de produzir biofilme — o que as torna mais resistentes a processos de descontaminação. Os resultados estão descritos em artigo publicado na sexta (17) na revista científica “Ciência Rural”.
Os biofilmes são estruturas formadas por comunidades de uma ou mais espécies de células bacterianas que produzem substâncias capazes de protegê-las de ações químicas e físicas. “Isso as torna mais resistentes a condições de frio, calor, seca, falta de alimento e produtos de descontaminação ambiental”, afirma Vanessa Laviniki, doutora em medicina veterinária pela UFRGS e autora do estudo.
No trabalho, foram avaliadas 54 cepas de Salmonella enterica isoladas em quatro fábricas de ração animal localizadas no estado do Rio Grande do Sul. Os pesquisadores simularam a sua capacidade de sobrevivência em temperaturas de 28ºC e 37ºC num período de 24 a 96 horas. Todas apresentaram algum tipo de formação de biofilme, o que pode ser um fator de persistência em ambientes desfavoráveis, como fazendas, fábricas de ração, indústrias alimentícias e abatedouros. A pesquisa identificou que a bactéria é capaz de formar biofilme em áreas de processamento de alimentos e em superfícies incluindo aço inoxidável, alumínio, plástico e vidro.
A salmonella é capaz de causar infecções alimentares graves em humanos. A resistência identificada neste estudo faz com que os microrganismos permaneçam nos ambientes por mais tempo, aumentando o risco de contaminação em toda a cadeia de produção de carne suína. “O setor de frigoríficos conta com rígidos protocolos de higienização. Mas quanto mais persistentes são as bactérias, maiores são os desafios das estratégias de descontaminação”, explica Laviniki.
Segundo a pesquisadora, o ambiente das indústrias de ração para pecuária é propício para a persistência de salmonella. “As fábricas têm bastante detritos, poeira e restos de matéria prima, principalmente de origem vegetal, o que favorece a entrada de salmonella”. Além disso, esses locais costumam ser quentes e não podem ser descontaminados com limpeza úmida e produtos potentes. “Existem poucas opções no mercado de produtos de limpeza a seco para bactérias que formam biofilme, o que impacta o processo de descontaminação”, diz a autora.
Para superar esse desafio, o estudo indica a necessidade de treinamento e capacitação de operadores de fábricas de ração para a redução de resíduos, principalmente de origem vegetal. Além disso, Laviniki salienta que é preciso estabelecer um maior controle de qualidade microbiológica dentro das fábricas, com uso de produtos de limpeza que eliminem focos resistentes de bactérias.
(Fonte: Agência Bori – Pesquisa indexada no Scielo)