O processo de criação de ferramentas de análise de aprendizado, conhecido como Learning Analytics, pode apoiar educadores a traduzirem dados pedagógicos em ações concretas na sala de aula. Favorecer um cenário de design participativo, que considere os rituais e necessidades da escola, aumenta as chances de adoção e uso de ferramentas de dados voltadas a educadores, segundo artigo publicado na quinta (14) na revista científica “British Journal of Educational Technology”.
O trabalho, liderado por Fabio Campos, pesquisador da Universidade de Nova York, investigou o processo de criação de uma ferramenta de Learning Analytics implementada em escolas de três distritos educacionais dos Estados Unidos. O processo durou cerca de seis anos e contou com a participação de professores, diretores e orientadores pedagógicos de alunos do ensino fundamental II.
Ficou claro que considerar a cultura do espaço escolar, em relação aos costumes e rotinas, para a construção da ferramenta, facilita para os professores o estabelecimento de metas e a identificação de lacunas de aprendizado. “Uma ferramenta tem que se encaixar no dia a dia da escola sem atrapalhar e precisa oferecer um panorama maior sobre o desenvolvimento pedagógico do aluno”, explica Campos.
A experiência nas escolas norte-americanas também indicou a importância do que os pesquisadores chamam de ‘Incerteza Geradora’; ou seja, quando os educadores questionam os dados pedagógicos e usam estas informações para melhorar a jornada de aprendizado de alunos, classes ou escolas. “Na educação, a dúvida é o objetivo. Alguns dados educacionais devem fazer com que o professor ou gestor questione o motivo daquelas informações e investigue onde está o problema, já que a dúvida pode influenciar políticas públicas de educação”, afirma Campos.
Para o pesquisador, as conclusões do estudo podem auxiliar no desenho e implementação de infraestruturas públicas digitais de educação no Brasil. “Algumas redes públicas estão investindo milhões em ferramentas que não são muito produtivas. Tem muito painel de dados por aí que produz a informação, mas não a usa e ainda gera desconforto entre a equipe escolar, pois o professor se sente cobrado e vigiado”, diz Campos, que já atuou na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
Para ele, esses resultados podem servir como uma base para a construção de soluções brasileiras. “Inspirado na Saúde, o Brasil se prepara agora para colocar em prática seu Sistema Nacional de Educação (SNE). Mas como fazer isso sem uma rede de dados que ajude o professor na ponta? E como fazer isso respeitando as rotinas de nossas escolas? Para ter painéis de informações efetivas é preciso criar sistemas nacionais e inseri-los em uma realidade de formação continuada que inclua professores e gestores desde o design dessas ferramentas”, finaliza o pesquisador.
(Fonte: Agência Bori)