Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

Documenta Pantanal e Edições SESC SP lançam livro do fotógrafo João Farkas

São Paulo, por Kleber Patricio

Com apoio da iniciativa Documenta Pantanal e depois de dez viagens realizadas em um período de cinco anos à região, o livro Pantanal, de João Farkas, é o novo lançamento das Edições SESC São Paulo. Com 80 imagens acompanhadas de pequenos textos e distribuídas em 160 páginas, a obra desnuda a alma pantaneira a partir de um desafio ao tradicional estilo de documentação do fotógrafo. “Por ser muito fotogênico, esse ecossistema já foi objeto de muitos ensaios fotográficos. Não valeria a pena fazer um livro com os mesmos aspectos ou com a mesma visão. Trata-se de um olhar autoral com imagens que fogem do simplesmente documental e trazem uma visão pessoal por vezes idílica, por vezes dramática”, diz o autor. Quem compartilha de igual percepção é o diretor do SESC São Paulo, Danilo Santos de Miranda, que afirma: “Habituado ao gênero do retrato, João Farkas se deparou com vastas áreas pantaneiras onde a ausência humana é um aspecto eloquente, o que o levaria a assumir a paisagem como tema principal de seu ensaio fotográfico, exigindo-lhe o desenvolvimento de uma linguagem visual capaz de enquadrar vistas tão múltiplas e fugidias”.

No livro, as fotos revelam toda a complexidade retratada, perpassando uma simbiose extremamente particular entre o bioma e a vida humana, gerando um emaranhado de sensações. Ao mesmo tempo em que instiga mistério e distanciamento, a obra de Farkas remete a um assunto amplamente discutido e em evidência: as profundas ameaças e transformações do Pantanal por conta do assoreamento de seus rios e da mudança climática. “Na edição de todo o material produzido, eu incluí imagens das consequências destas alterações ao lado de fotos espetaculares e pouco conhecidas de alguns aspectos da região, como a floresta de buritis, as lagoas do Rio Paraguai e a fantástica florada dos ipês”, cita o autor. Nesse sentido, Farkas complementa: “Cada bioma exige uma aproximação visual diferente e o Pantanal é sui generis. Tem uma amplidão e uma horizontalidade radicais. Lá, as coisas estão muito próximas ou muito longe do ponto de vista do fotógrafo. Acho que foi isto que acabou me levando a uma visão aérea, quando a composição se torna interessante, sem a onipresença do horizonte. Mas, lá de cima, há ainda uma questão única: é um local onde ‘terra e água’ se misturam e se fecundam, como bem disse Manoel de Barros, o grande poeta pantaneiro”.

Ao rever o desafio de registrar a região, o fotógrafo afirma que encontrar imagens diferentes e inesperadas do Pantanal era fundamental para que as pessoas dessem atenção ao trabalho, cuja missão subjacente é alertar a sociedade para o processo de degradação ambiental. Sobre isso, vale lembrar que, em outubro de 2019, Farkas documentou as maiores queimadas de que se tem notícia no Mato Grosso do Sul, assim como o desaparecimento do Rio Taquari em seu baixo curso. Este último ponto também revela, na obra, a existência de heróis locais, como Ruivaldo Nery de Andrade, que, por meio de sua apaixonada luta em defesa do meio ambiente, inspirou o filme Ruivaldo, o homem que salvou a Terra, que teve aporte da iniciativa Documental Pantanal, da qual o fotógrafo é um dos porta-vozes. Com 46 minutos de duração, o documentário conta com direção de Jorge Bodanzky e é codirigido pelo próprio Farkas. Depois de estrear internacionalmente em Bruxelas em setembro de 2019 e ter sido apresentado em Corumbá (MS) e na capital paulista, o título participou do evento Manifestos Para Adiar o Fim do Mundo e, mais recentemente, da programação especial dedicada à Semana do Meio Ambiente, que antecipou a nona edição da Mostra Ecofalante de Cinema (trailer disponível em https://www.youtube.com/watch?v=WFZQjkfa3QQ&frags=pl%2Cwn).

Quanto ao aspecto mais humano de Pantanal, Farkas recorre ao retrato – sua especialidade – para estampar a melancolia das pessoas que ali residem e resistem à destruição causada pela exploração não responsável das áreas produtivas. Esse olhar tristonho é recorrente nas imagens deste povo acometido por dificuldades e isolamento. Em poucas palavras, a proximidade do fotógrafo com a região pode ser definida como uma mescla de encantamento e estranhamento, como ele próprio relata em uma das passagens de seu novo livro: “Caminhei instintivamente para imagens em tudo diversas das que já tinha visto, radicalmente distintas e surpreendentes. Quanto mais conheci o Pantanal, com mais profundidade mergulhei neste paradoxo de beleza.”

Escolhido para escrever a orelha do livro, o fotógrafo Luciano Candisani, em sua reflexão sobre a profundidade do trabalho de Farkas, afirma que a obra imprime uma tônica fiel ao que o leitor verá em seguida. Por sua vez, o biólogo Sandro Menezes Silva, professor-doutor da Universidade Federal da Grande Dourados e um dos maiores especialistas sobre o Pantanal, presenteia o leitor, no final do livro, com todo o suporte teórico necessário para entendimento da realidade deste paraíso inundado.

Os títulos das Edições SESC São Paulo podem ser adquiridos em todas as unidades do SESC São Paulo, nas principais livrarias, em aplicativos como Apple Store e Google Play e também pelo portal www.SESCsp.org.br/livraria.

SOBRE O AUTOR

Paulistano, João Farkas é formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, com cursos complementares de fotografia no International Center of Photography e na School of Visual Arts (ambos em Nova York). Profissionalmente, foi editor da Revista Fotoptica e IstoÉ, tendo seus trabalhos publicados nos principais veículos da imprensa nacional e em importantes títulos internacionais. Em sua trajetória, participou de mais de 40 exposições individuais e coletivas nos principais museus brasileiros e em galerias, assim como no exterior e seu trabalho integra o acervo de grandes coleções privadas e de reconhecidas instituições, como MASP, MAM-SP, MAM-BA, Museu de Arte do Rio, Maison Europeénne de Photographie e International Center of Photography, entre outras. Pantanal é o quinto livro de fotografias do autor, que também assina Amazônia ocupada, Trancoso, Nativos e biribandos e Caretas de Maragojipe.

SOBRE DOCUMENTA PANTANAL

Registrar, documentar e valorizar a cultura e a natureza pantaneiras por meio da promoção de atividades em prol da difusão do conhecimento e da preservação. A partir dessa proposta, a iniciativa Documenta Pantanal, após um ano de atuação, reafirma seu papel de contribuir para o desenvolvimento de ações multimídias (exposições, livros, vídeos e documentários, por exemplo) que, mais do que celebrarem a beleza e a biodiversidade desse ecossistema, pretendem chamar a atenção da sociedade para a urgência em conhecer e preservar este patrimônio da Humanidade. Ao apoiar pesquisas, compartilhar conhecimentos científicos e manifestações tradicionais da cultura do Pantanal, a Documenta busca contribuir para a adoção e a valorização de uma visão de desenvolvimento sustentável na agricultura, na pecuária e no turismo de qualidade. A iniciativa reúne estudiosos, empresários, artistas e produtores para, em conjunto, alertar a sociedade para as questões primordiais desse bioma.

http://documentapantanal.com.br/

https://www.instagram.com/documentapantanal/

https://www.facebook.com/documentapantanal/

Participantes da Documenta Pantanal

Organização: João Farkas – Mônica Guimarães – Sandro Menezes Silva e Teresa Cristina Ralston Bracher

Acaia Pantanal – Associação Onçafari – Agrotools – Araquém Alcântara – Bichos de Pantanal – Cenap – ICMbio – Chef Paulo Machado – Editora Vento Leste – Embrapa Pantanal – Fazenda Barraco Alto – Aquidauana /MS – Fazenda Fazendinha – Aquidauana/MS – Fazenda Figueiral – Corumbá/MS – Fazenda Santa Tereza – Corumbá/MS – Fazenda São Camilo – Corumbá/MS – Fazenda São Francisco do Perigara – Barão de Melgaço/MT – Fazenda Vera Lúcia – Aquidauana/MS – Instituto Agwa – Instituto Arara Azul – Instituto Delta do Salobra – Instituto Homem Pantaneiro – Jorge Bodanzky – Lawrence Wahba – Lucia Barbosa Machado – Luciano Candisani – Márcia Hirota – Marina Klink – Marina Lutz – Maurício Copetti – Miguel Milano – Moinho Cultural de Corumbá – Onças do Rio Negro – Panthera Brasil – Porto São Pedro – Corumbá/MS – Raquel Machado – Rede Nacional Pro Unidades de Conservação – Refúgio Ecológico Caiman – Miranda/MS – RPCSA – Rede do Amolar – Silas Ismael – Sindicato Rural de Corumbá – SOS Pantanal – SOS Taquari.